Escrever, correr, pedalar
Anotação sobre Ritmo e Inércia de 3-10-24, às 12h36min, em São Paulo.
O começo é difícil. A força da inércia demanda grande dispêndio de energia para que o movimento comece. A página em branco é brutal, dotada de uma capacidade inercial quase insuperável, as primeiras palavras pesam uma tonelada. É preciso insistir: o ritmo do movimento constante supera, pouco a pouco, o peso das palavras e, de repente, a inércia está trabalhando a seu favor. Uma palavra depois da outra.
A rua é longa. As pernas temem os primeiros passos. O corpo antevê o cansaço vindouro e sofre - ansiedade que se revela para além da cabeça. É preciso insistir. É preciso dar o primeiro passo, é preciso acelerar, é preciso fazer o corpo se mover em ritmo constante até que, de repente, a inércia esteja trabalhando a seu favor. Um passo depois do outro.
Olhe só essa subida: é íngreme, estende-se para além do horizonte. Na relação mais leve, os pedais ainda resistem ao impulso de suas pernas, as rodas giram muito lentamente, o movimento adiante é mínimo e o cansaço é enorme. É preciso continuar fazendo força enquanto a corrente range. É preciso continuar subindo. É preciso sustentar o desconforto. É preciso superar o pico da subida para, enfim, deixar o corpo e a bicicleta, como um-só, embalar-se pela decida, com o vento em seu rosto atuando como testemunha de que a inércia está, enfim, a seu favor. Uma pedalada depois da outra.
Escrever. Correr. Pedalar.