O fim de 2020 (ou quase) e um merchan pela minha aposentadoria
Desde março de 2020 a noção de tempo tem sido dilacerada no Brasil e no mundo. A noção de tempo comporta outras diversas noções e não é de agora. Santo Agostinho nas suas confissões já perguntava milhares de vezes pra Deus: o que é o tempo?, o que é o agora?, se eu falo do agora, já falo do antes, e como, então, posso falar do agora?
Se ele, que era santo, estava em dúvida, imagina eu. Ao que me consta, Deus não explicou nada.
Como falar do tempo? Como expressar o tempo?
Não há muita dúvida de que o tempo do relógio é apenas um mecanismo de controle criado para organização, utilizando alguns parâmetros físicos - a rotação da terra, sua posição em relação ao sol, etc. É uma maneira de se pensar o tempo, mas longe de ser a única. Do tempo do relógio para o tempo da mente - aquele que nós experimentamos - há uma distância enorme.
De qual lado da porta do banheiro você está?
A literatura tem discutido a questão do tempo desde sempre. É difícil expressar eventos paralelos com a linguagem, que exige de nós a expressão linear, uma palavra depois da outra. O mundo, multidimensional, acontece ao mesmo tempo, tudo junto. Na linguagem é preciso ordenar, é preciso definir prioridades.
Desde março de 2020 as prioridades ficaram cada vez mais confusas.
Em que ano estamos? Em que mês estamos? Nos piores momentos da pandemia, dia e noite se confundiam, era só a luz vindo pela janela, ou a ausência de luz.
Ao fim de 2021, parece que estamos acabando também o ano de 2020. Ou de 2019. 2020 nem bem começou.
Santo Agostinho estaria mais confuso agora do que antes.
Enfim.
Nesse fim de 2021 (ou 2020, ou 2019), escrevi um conto novo. 10 mil palavras.
Esse conto começou assim: a ideia que me veio foi "uma mulher está no cinema e tem um ataque de pânico".
Eu escrevi o primeiro capítulo, relatando esse ataque de pânico. Não sabia para onde ir.
Depois eu estava tomando banho alguns dias mais tarde e lembrei do pé de feijão no algodão que plantamos na escola. Lembrei do encantamento infantil diante desse experimento. E lembrei da história da mulher que tem um ataque de pânico dentro do cinema.
As duas coisas pareciam fazer sentido, mas em momentos distintos.
Presente e passado. A questão do tempo e a questão do medo.
10 mil palavras depois, o conto "sob" surgiu.
E agora o conto "sob" está em pré-venda na Amazon por meros R$9,90, com lançamento previsto para 1.1.2022. Começar o ano que vem já num clima bom, com uma leitura agradável de ansiedade e ondas gigantes que se formam nas profundezas do mar.
Cada compra é um passo que eu dou rumo à aposentadoria.
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Valeu. Feliz 2022 para nós.
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"No dia em que aconteceu pela primeira vez, tudo começou normalmente. Não há nisso surpresa alguma. Todo dia marcante começa de maneira ordinária. O sol nasce, o despertador toca, nós tomamos café, a tevê dá as primeiras notícias. Não é o começo do dia que importa, mas o seu miolo, onde os eventos se desenrolam. Um dia como todos os outros, até deixar de ser."
A primeira crise de pânico veio sem aparente aviso prévio enquanto estavam no cinema. A narrativa vai em busca das origens da aparente normalidade, no lugar profundo em que os sentimentos nascem, transformam-se, crescem. Em uma história de personagens sem nome, o presente e o passado se confundem - a dor dilacerante e paralisante da mulher acometida por uma ansiedade insuportável e o encantamento e esperança de uma menina que cultiva o seu primeiro pé de feijão no algodão -, voltando sempre para dentro, para aquilo que não se vê.
Entre o agora e o antes, a soma de tudo: quem nós somos, do que somos feitos. "sob" é uma história sobre o medo, que se constrói pela coragem.