Para-raios de maluco e digital influencer não remunerado da[o?] OneBlade
Eu tinha o quê, uns sete, oito anos? Eu tinha uns sete ou oito anos quando eu fui no casamento de uma prima minha, que às vezes responde meus stories no instagram e eu demoro para responder de volta e, quando lembro, já passou muito tempo e seria estranho responder de volta, enfim, eu fui no casamento dela e sabe quem tava lá?
É claro que você não sabe. Mas eu vou dizer: o Bernardinho. Essa minha prima jogava vôlei, e em algum momento ela jogou num time dele, e eles fizeram amizade, e ela passou a trabalhar com medicina esportiva e ele foi convidado para o casamento e aceitou o convite. Eu, com sete ou oito anos, em dado momento da festa parei na frente do Bernardinho, que tava enchendo um pratinho de canapés, aí eu parei na frente dele e disse Oi Bernardinho, e ele olhou para mim, segurando o pratinho de canapés, e disse Oi?, e eu virei e fui embora.
Mas não era isso que eu queria contar. É que na hora do buquê, minha mãe olhou para mim e falou assim: pega pra mãe. Ela falou assim, sem interrogação, falou e deu uma piscadinha. Pega lá pra mãe. Lógico que eu fui pegar, eu tinha sete ou oito anos e a minha mãe me mandou pegar o buquê. Quando minha prima jogou o buquê para trás, eu, com sete ou oito anos mas já bastante alto para a minha idade, saltei do chão, orgulhando o Bernardinho pela impulsão, e agarrei o buquê no ar. Só que enquanto eu voltava para o chão, uma outra prima minha meteu a mão no buquê e tentou puxar de mim. Eu puxei de volta.
Por uns 10 segundos eu, uma criança, e ela, uma adulta, ficamos brigando pelo buquê no meio do salão. Todo mundo parou para assistir.
Eu posso estar errado, mas é mais estranho uma adulta brigar com uma criança pelo buquê do que um menino tentar pegar o buquê para a mãe.
No fim ela soltou o buquê. Todo mundo me encarava. O Bernardinho me encarava, segurando um canapé. Minha reação foi dizer: minha mãe que mandou. E a reação da minha mãe foi dizer: tá doido, menino?
E aí todo mundo riu de mim, o imbecil que tentou roubar o buquê. Essa era a minha mãe.
Que saudade.
Não tem isso de começar do começo. Oi.
Se você está recebendo esse e-mail, você certamente já me conhece de algum lugar - ou você leu algo que eu escrevi, ou você me segue nas redes sociais, ou você é meu amigo e ficou constrangido de não se inscrever na minha newsletter depois de tanta insistência.
Seja como for, obrigado. Se você ainda não comprou meu livro, meio obrigado só.
Sobre a newsletter: não sei. Vamos ver no que vai dar.
Por que Eu posso estar errado? Porque eu adoro essa frase. Eu adoro essa frase e as variações dessa frase, e eu uso sempre que eu posso. Daí para a frase virar o nome da newsletter é simples: eu não sabia que nome colocar, e esse é um nome tão bom quanto qualquer outro - mas eu posso, é claro, estar errado (viu?).
Apesar de eu não saber no que isso vai dar, a razão subjacente é, evidentemente, que eu estou sempre escrevendo, então esse é mais um canal para eu me comunicar com quem me lê. Como temos 4 inscritos no momento, compreendendo todo o meu universo de leitores, creio que o objetivo será atingido.
Eu tô mesmo sempre escrevendo. Desde 2013, lá na EPCAR, eu tô sempre escrevendo. Sempre escrevendo no sentido de ter 550 histórias publicadas, neste momento, no Medium. E um livro de contos. E alguns ebooks. E um monte de coisa em caderninhos que estão guardados numa gaveta.
Para alguém que não tem muito o que dizer, ou, mais especificamente, nunca gostou muito de dizer nada, é até que surpreendente.
Um dos reflexos disso, no entanto, é que quanto mais eu escrevo, mais eu me exponho. E quanto mais eu me exponho, mais maluco me aparece.
Maluco assim: há uns anos, quando eu estava no primeiro ano da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto, a Federp, um cara me mandou mensagem no facebook. A mensagem foi filtrada pelo Solicitações de contato e eu, imbecil que sou, aceitei. Era só um Oi. Eu respondi. Aí ele me perguntou se eu conhecia uma pessoa que tinha estudado na EPCAR também, um ano mais velho do que eu. Eu disse que sabia quem essa pessoa era, mas que não tinha contato. Ele perguntou se essa pessoa estava na AFA (Academia da Força Aérea), eu disse que não sabia. Ele parou de mandar mensagem. Alguns dias depois, ele voltou a mandar mensagem, mas dessa vez ele tava puto. E ele tava puto comigo. Por que ele tava puto comigo? Eu não sei por qual razão ele tava puto comigo. Mas ele começou a dizer que eu tinha mentido, que eu conhecia sim a pessoa, que eu tinha contato com a pessoa, que se ele me encontrasse ele ia me virar do avesso na porrada. Primeiro eu entrei no perfil dele para ver as fotos e me certificar de que ele não era capaz de me virar do avesso na porrada. Ao menos numa análise superficial, não parecia ser o caso. De qualquer jeito, eu parei de responder. Já tive experiência prévia com maluco discutindo na internet que evoluiu para maluco me ameaçando na vida real - já conto, vou chegar lá.
Enfim, esse caso não envolve nada do que eu escrevi, é só um relato de como eu pareço atrair uma gente meio amalucada da cabeça.
Outros casos envolvem coisas que eu escrevi. Vira e mexe alguém que começou a ler meus textos me adicona nas redes sociais e me manda mensagem, o que é legal. Mais ou menos legal. Às vezes é legal. Às vezes não é: quando a pessoa me oferece uma análise da minha própria vida a partir dos meus textos, ou pergunta o tamanho do meu pé.
A pergunta do pé eu não respondi. Não queria saber até onde aquilo poderia ir.
Mas quando me mandam mensagem para dizer que se identificaram com uma situação descrita em algum texto meu, para dizer que se sentiram compreendidos, que se sentiram entendidos, que viram descritas sensações que eles sempre experimentaram, mas nunca conseguiram descrever, aí eu fico é muito contente.
Não acontece sempre, mas é bom quando acontece.
Agora, desde antes de eu escrever meu primeiro conto eu já tenho uma predisposição para me colocar em situações ruins.
Teoria: sabedoria é não se colocar em situações das quais você não pode sair sozinho.
Eu não sou muito sábio. Aos treze anos, dos treze para os quatorze, eu estava na oitava série, nono ano. Minha vida se resumia a jogar video-game, trabalhar para o meu tio (e depois para um amigo que consertava computadores e abriu um servidor de internet em Boituva) para pagar o video-game que eu tinha comprado, ir para a escola pela manhã e pedir para ir embora na terceira aula dizendo que eu estava com dor de cabeça (em minha defesa, era verdade 75% das vezes), tentar encontrar alguma menina que estivesse disposta a me beijar sem que eu precisasse tomar nenhuma atitude quanto a isso, e ficar na internet todo o resto do tempo.
E o que acontece: o Orkut estava em alta. Eu adorava o Orkut. Eu passava horas e horas no Orkut, nas comunidades de Parkour e do Corinthians. E eu passava horas fuçando o perfil de outras pessoas. Só que havia um fenômeno curioso: o Orkut permitia que você visse quem entrou no seu perfil, e permitia que os outros vissem quando você entrou no perfil deles. Por um motivo que permanece obscuro para mim até hoje, algumas pessoas não gostavam de ter seus perfis acessados e iam tirar satisfação.
Pois bem.
Eu entrei no perfil de um carinha de Boituva, que eu conhecia de vista, e sabia que era alguns anos mais velho do que eu. Não faço ideia do motivo pelo qual eu entrei no perfil dele. Alguns dias depois ele me mandou um Scrap perguntando o que eu tinha ido fazer lá. Perguntando se eu tinha perdido alguma coisa. Veja bem, parte da minha personalidade naquela época consistia em tentar ser sarcástico e distante para que as pessoas se interessassem por mim - um problema de quem assiste muito House. Por isso a minha resposta foi, e eu achei genial: se não quer que entrem no seu perfil, vai morar em um iglu.
Inclusive eu coloquei no meu Scrapbook essa mensagem: se não quer que entrem no seu perfil, vai morar em um iglu, deixando claro o quanto eu me orgulhava daquela resposta.
Tô errado?
Provavelmente.
O carinha não me achou tão genial assim. Ele respondeu com a seguinte frase: dou um boi para não entrar, e uma boiada para não sair. Eu não entendi a frase na hora. Eu perguntei para a minha mãe o que aquela frase queria dizer. Ela me explicou e eu percebi que estava fodido. Ele mandou outro Scrap falando que ia me pegar na porrada na saída da escola.
Essa história deu origem ao conto TIO CARALHO E A PEER PRESSURE. Para resumir, ele foi até a saída da escola em que eu estudava, junto com um amigo, para me encher de porrada. Eu, por minha vez, saí pelo outro lado durante uma semana.
Não apanhei e toda vez que eu vou para Boituva e vejo esse carinha na rua eu penso num iglu.
Só para acabar: esses dias eu recebi a seguinte DM nas solicitações do twitter -
Para contexto, em algum momento da minha vida eu postei uma foto depois de fazer a barba e disse para a OneBlade me patrocinar (é a OneBlade ou o OneBlade? é o barbeador, mas me parece muito evidente que a OneBlade tem uma sonoridade superior - talvez por causa da gilete, que ela promete substituir?). Foi um tuíte em português. Aí o @abdullah_alshuw achou por bem me mandar DM com uma pergunta sobre o funcionamento do barbeador dele.
Eu achei isso muito engraçado. Eu achei muito engraçado que o Abdullah pesquisou OneBlade no twitter, viu o meu perfil e pensou: é isso, vou perguntar pra esse cara, que tuíta em português, sobre o meu próprio barbeador, quando eu poderia muito bem pesquisar essa informação direto no site da Philips.
Eu achei tão engraçado que eu aceitei a solicitação de mensagem, entrei no site da Philips, pesquisei a pergunta dele e copiei a resposta na DM.
Aos sete ou oito anos eu briguei por causa de um buquê numa festa de casamento com a presença do Bernardinho. O mínimo que eu posso fazer é ajudar os malucos que me encontram na internet (não todos).
É isso.
Como disse o Abdullah, se você leu até aqui:
- gsc
ps: se você responder esse e-mail, eu recebo a resposta. eu acho. não sei. nunca fiz isso antes. responde aí.